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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Os diferentes votos nulos

Por Edilson Silva
O PSOL colocou entre as suas alternativas de voto neste 2° turno presidencial o voto nulo. Colocou também como opção legítima para a sua militância o voto crítico em Dilma Roussef, descartando assim qualquer possibilidade de voto no candidato do PSDB, José Serra. Com isto, o PSOL sai do terreno da neutralidade pura e simples e acompanha solidariamente o sentimento progressivo que importantes setores de esquerda da sociedade têm em relação às diferenças entre as duas candidaturas que disputam o 2° turno.


Esta definição do PSOL, no entanto, vem colocando-nos diante de debates muito interessantes acerca do que significa o voto nulo. Tenho ouvido, tanto de membros do PSOL como de colegas e de pessoas as mais variadas não vinculadas ao PSOL, sobre a força e a qualidade do voto nulo. Segundo estes, o número de votos nulos no 1° turno seria impressionante, uma verdadeira força subterrânea, um recado contundente das urnas contra o regime político. Agora, no 2° turno, ainda segundo estes, esta força poderá ser ainda maior.


Senti a necessidade de refletir coletivamente sobre o assunto, sobretudo porque achei o voto nulo no 1° turno destas eleições presidenciais um despropósito, por dois motivos, essencialmente: o fato da existência de um largo espectro de candidaturas colocadas nesta etapa e, mais ainda, diante do fato de não vermos absolutamente nenhuma movimentação política minimamente relevante no sentido de dar organização e força política para estes eleitores do Sr. Nulo.


Penso que este voto nulo no 1° turno, em regra, seria uma manifestação anarquista porra-louca, pois não há nas regiões com maior incidência de nulos uma correspondência em atos anti-governo, anti-regime, anti-eleição ou anti-qualquer coisa. Cito o Pará, por exemplo, que possui alto índice de nulos e onde a mobilização direta seria muito necessária para questionar iniciativas muito danosas à sociedade, como as grandes hidroelétricas, a exemplo de Belo Monte. As poucas mobilizações, quando existem, são impulsionadas e garantidas em geral por militantes partidários que lançam candidatos no 1° turno e, portanto, não votam nulo. Onde estaria a massa de anuladores de voto nestes momentos?


De outra forma este voto nulo no 1° turno poderia então, em regra, ser de sujeitos que protestam única e exclusivamente contra a obrigatoriedade do voto. Logo, estaríamos diante de sujeitos que não vêem nas eleições mais do que um atentado à sua liberdade e/ou direito subjetivo de não comparecer às urnas. Seriam, no caso, liberais que desprezam o fazer coletivo em favor de seu individualismo, e a conseqüência óbvia é que este liberalismo civil exacerbado, que se mistura malandramente com liberdade – e que neste terreno pouco deve aos anarquistas e vice-versa-, descamba é para o liberalismo econômico. Laissez faire! Laisser passer! Ainda bem que nosso liberalismo não chega a tanto.


Logo, há uma diferença substancial entre a resolução do PSOL que admite o voto nulo no 2° turno destas eleições e aqueles votos nulos do 1° turno. O PSOL fará oposição popular, parlamentar e institucional organizada tanto a Serra quanto à Dilma. Disputamos as eleições no 1° turno, criticamos, denunciamos, propomos alternativas, elegemos alguns parlamentares e agora continuamos a nossa luta, buscando organizar o povo em favor de seus direitos, inclusive o direito a eleições democráticas.


Acreditamos na organização popular e no despertar de um ser coletivo de dentro de cada homem e de cada mulher, de cada jovem, de cada cidadão. Acreditamos na solidariedade, na fraternidade, na democracia, na igualdade e na liberdade, por isso não nos confundimos com a perspectiva liberal-individualista e/ou anárco-irresponsável, que acaba servindo ao ideário da barbárie social, filha inevitável do capitalismo selvagem.


Presidente do PSOL-PE

Voto nulo não é omissão

Por Heitor Scalambrini Costa - Prof. da UFPE / Colaborador do PSOL
Sou daqueles que entendem que quase sempre o voto nulo é uma forma dos cidadãos e das cidadãs expressarem o seu descontentamento com o sistema político-econômico no ato eleitoral. Não basta só eleger. É preciso fiscalizar, participar, garantir o controle social, acabar com a impunidade, defender que o voto seja optativo.


Minha análise da conjuntura não aponta nem conclui que um eventual governo Serra seja um desastre total, o fim dos tempos, e o de Dilma não. O eventual governo Dilma é uma incógnita. Dilma não é Lula. Como João da Costa não é João Paulo.


Sou contra a volta do grupo representado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas lutar contra a direita não significa votar em Dilma Rousseff. Basta ver o apoio de alguns setores da sociedade a esta candidatura e a arrecadação de campanha da petista, com sinais da presença do grande capital nas eleições. Os gastos oficiais chegam aos R$ 200 milhões, sendo que os gastos reais giram em torno dos R$ 500 milhões.


Que um eventual governo Serra faça mudanças na política externa, particularmente com alguns de nossos vizinhos, seja mais truculento na repressão aos movimentos sociais parece evidente. Pelo que fala e fez. Em contrapartida a um tratamento distinto com estes movimentos, com menos repressão e com mais cooptação, de um eventual governo Dilma.


Quero que nesta eleição meu voto seja útil, para dizer que não concordo com tanta corrupção e tanta impunidade. Que não concordo com o sistema político atual baseado no nepotismo, na impunidade, e na fajuta democracia representativa. São na verdade os partidos que escolhem as pessoas em que iremos votar. Voto útil é voto nulo para dizer que ambos concorrentes são muito mais semelhantes, do que é falsamente propagandeado pelos quatro cantos.


Votar em Serra seria votar junto com Fernando Henrique Cardoso, Roberto Jefferson, Paulo Renato, Cesar Maia, Marco Maciel, Roberto Freire, figuras já conhecidas desse País. Votar em Dilma seria votar junto com Paulo Maluf, Fernando Collor, José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Inocência Oliveira, outras figuras também tão emblemáticas.


Sou contra o capitalismo, e luto pelo socialismo. A política econômica de ambos, Serra e Dilma, são favoráveis e privilegia o mercado, o desenvolvimento predatório vigente, a utilização dos combustíveis fósseis e da eletricidade nuclear. Não respeitam e nem preservam a natureza, visto o que ocorre em São Paulo e em todo o país. São essas mesmas políticas econômicas que nos coloca na vergonhosa posição de estar entre os dez países do mundo com maior desigualdade na distribuição de renda e na quantidade de emissão de CO2.


No 1º turno da eleição presidencial, 6.124.254 (5,5%) dos eleitores anularam o voto. Foram mais de três milhões que votaram em branco, exatamente, 3.479.340 (3,1%). E mais de 24 milhões de eleitores se abstiveram, o número exato é 24.610.296 (18,1%). Somando-se votos nulos e brancos mais as abstenções, temos 34.214.391, ou seja, 26,8% dos eleitores se recusaram a referendar qualquer um dos postulantes ao principal emprego público do país.


O voto nulo (ou em branco) é uma opção política legítima, direito democrática, seja qual for o seu caráter, e não deve ser caracterizado com adjetivos políticos e morais. Portanto, que cada cidadão e cada cidadã vote (ou não) com sua consciência e com plena liberdade de escolha. E você que for anular seu voto, esteja certo que votar nulo não é omissão.

POR QUE VOTO NULO NESTE SEGUNDO TURNO

Por Janira Rocha - Deputada Estadual eleita do PSOL-RJ
Hoje sou deputada estadual eleita pelo Psol do Rio de Janeiro, mas antes de tudo, sou uma lutadora e organizadora do povo e dos trabalhadores. Defino minhas posições políticas refletindo as batalhas vividas nas lutas de meu país nos últimos 30 anos, por isto o "voto útil" e o "menos pior” não balizam minhas posições.


A estratégia de Sociedade do Psol, confrontada com as estratégias do PT e do PSDB, seus Programas, suas Políticas Econômicas inequivocamente idênticas, suas alianças com o Capital especulativo, com a Grande Mídia e a deslavada Corrupção patrocinada contra os cofres públicos, é meu referencial para o Voto Nulo.


Lamento que setores importantes da Esquerda Brasileira se deixem pautar apenas pela agenda fundamentalista, pela necessidade de negá-la, e abstraiam que ela foi construída por setores burgueses que se escondem por trás de diferentes religiões e com ajuda da Grande Mídia, para nos manipular à esquerda ou à direita. O Pastor Silas Malafaia está com Serra e o Marcelo Crivella está com Dilma, ou ambos não são fundamentalistas com as mesmas posições sobre os temas sociais e morais que levam uma parte de nós a justificar seu "Voto Crítico"?


De Serra tivemos privatizações, arrocho salarial, desmonte do setor público, repressão contra os movimentos sociais organizados; De Lula/Dilma tivemos tudo isto, e mais, cooptação dos pobres e dos mais importantes movimentos


Sociais - MST, UNE CUT, etc. - o que impõe um muro a capacidade de luta do povo para romper com as amarras capitalistas defendidas pelos dois Governos PSDB/PT, que são saudados por todos os Imperialistas como duas faces de uma mesma moeda.


Depois de 31 de outubro, o que estará na pauta será a Reforma da Previdência aumentando o tempo de contribuição dos trabalhadores para 75 anos, serão as Privatizações, as concessões vergonhosas do Pré-Sal para as grandes empresas internacionais, será a continuidade dos arrochos salariais, os acordos com os grandes latifundiários para não fazer A Reforma Agrária e continuar desmatando a Amazônia; será o loteamento dos cargos públicos entre a canalha política burguesa e a crescente corrupção.


Seja Serra, seja Dilma, esta será a pauta!


Como sempre pautei minha ação política pelos passos que dei no campo das lutas pela construção de uma sociedade diferente desta que vivo, não tenho condições políticas e morais de fazer esta escolha entre Serra e Dilma, por isto Voto, junto com os companheiros do meu coletivo: NULO.


Respeito o posicionamento de meus companheiros do PSOL que fazem outro voto, saúdo a Executiva Nacional, que entendendo o processo do Partido, liberou seus militantes para expressarem suas opiniões divergentes; mas neste momento estou do lado daqueles que não querem ter nenhum tipo de compromisso, mesmo que seja crítico, com nenhuma da opções que estão colocadas. Quando for a rua novamente para defender a Previdência Pública quero estar com meu coração livre de arrependimentos para poder ter mais força para lutar.

Com o PSOL, na unidade pela luta socialista

Por Edilson Silva*
O PSOL é fruto de seu tempo e de suas circunstâncias. Tempos de inexatidão teórica e programática, de dúvidas, de incertezas, de crise de identidade da esquerda. Socialismo? Qual deles? Os franceses do NPA rearticularam-se sob a bandeira do anti-capitalismo. Sábios esses franceses!


Tenho dito para quem me pergunta sobre o futuro do PSOL que este partido é o vetor resultante, portanto possível, de um encontro não planejado. Uma espécie de pequeno barco construído em alto mar por aqueles que se atiraram heróica e corajosamente de um transatlântico chamado governo Lula. Ali, em alto mar, com pedaços soltos de idéias e raquítica musculatura militante, construímos este pequeno barco para dar suporte àqueles que não mais concordavam em seguir a viagem na nau lulo-petista.


Não tem sido fácil a convivência nesta nossa canoinha. O espaço interno é pequeno. Os fóruns para decidir a posição do leme são acalorados e polêmicos. Todos têm uma bússola melhor aferida, que não raro apontam o norte com diferença relevante. Nossa pequena embarcação tem remos, mas a depender da posição do leme, nem todos remam. Alguns só o fazem se for na direção que desejam. Duas alternativas: paciência ou prancha?! Até aqui optamos, acertadamente, sempre, pela paciência.


Apesar das dificuldades, temos conseguido ampliar nosso tamanho e construir uma cultura de convivência interna. Prova disso foi a última reunião da Executiva Nacional do PSOL. Em outros tempos a reunião não acabaria, e o barco ficaria parado em alto mar com um tiroteio interno infernal. Dirigentes do mais alto gabarito, como Plínio de Arruda, Heloisa Helena e Janira Rocha defendendo a neutralidade do PSOL e voto nulo no 2° turno. Outros dirigentes não menos gabaritados, como Ivan Valente, Chico Alencar, Milton Temer e Marcelo Freixo defendendo voto crítico na Dilma. Que fazer, diria Lênin?!


O PSOL não se dispôs a impor a nenhum de seus dirigentes e figuras públicas a camisa de força de uma resolução unilateral. Não se dispôs a não reconhecer as múltiplas realidades regionais de nosso país, as contradições presentes na conjuntura, as dinâmicas diferenciadas de construção do PSOL em cada estado.


Uma realidade tão contraditória exigia do PSOL uma resolução que apontasse um caminho que, com letras garrafais, não representasse a neutralidade, mas que da mesma forma representasse a independência de nosso partido em relação às duas candidaturas postas neste segundo turno.


Afirmar o veto à candidatura de Serra nos demarcou um campo absolutamente definido contra uma direita fundamentalista, elitista, que verbaliza suas posições mais claramente pela revista Veja e pelos editoriais e matérias indisfarçáveis dos jornalões do país.


Afirmar o voto nulo/branco como alternativa legítima do povo em protesto contra a falta de diferença substanciais entre as duas candidaturas, e a abertura de possibilidade de voto crítico em Dilma Roussef, para aqueles que, taticamente, querem acompanhar setores honestos da sociedade que ainda vêem elementos progressivos em relação à candidatura Serra, foi uma atitude de coragem e maturidade política. O PSOL, assim, preservou seu tecido interno e taticamente não fechou diálogo com importantes setores que se aproximaram de nosso projeto neste processo eleitoral.


Portanto, neste momento não há que se falar em disputa interna em base às resoluções da Executiva Nacional. Aqueles que apostam no acirramento das disputas internas, no clima de fracionamento, prestam um desserviço ao PSOL. O voto nulo está brilhantemente defendido em texto pela deputada estadual eleita do PSOL-RJ, Janira Rocha. O voto crítico em Dilma está bem defendido nos termos apresentados pelo deputado federal do PSOL-RJ, Chico Alencar, em entrevista dada logo após a reunião da Executiva Nacional. Este é o PSOL!


O PSOL tem muitas diferenças internas e estas não podem e não devem ser camufladas, até porque são parte do combustível da vida interna intensa que temos. Contudo, se não dosamos corretamente a intensidade da vida interna, podemos cair no equívoco de ver dentro do partido os principais adversários, quando estes estão lá fora.


Então, vamos todos juntos, no e com o PSOL, unidos na luta socialista!


Presidente do PSOL-PE e membro da Executiva Nacional do PSOL

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PSOL NO BLOG DA FOLHA

O PSOL em Pernambuco vai debater nesta quinta-feira o apoio nesse segundo turno presidencial. Com a resolução da Executiva Nacional apontando para "nenhum voto a José Serra (PSDB)" ou o "voto crítico" na candidata Dilma Rousseff (PT), o diretório estadual reabrirá suas portas para um debate comandado pelo presidente estadual da sigla, Edilson Silva.

Ex-candidato a governador, o psolista Edilson adiantou que a opção por Serra foi descartada antecipadamente pelo fato de o tucano vir a governar ao lado de "muitas forças truculentas". "Que usam da posição política para esmagar as diferenças. Tratam opositores como terroristas. Isso preocupa muito o PSOL", afirmou Edilson por telefone ao Blog. Segundo ele, o partido encontra-se dividido. Boa parte pretende votar em Dilma Rousseff, enquanto outra defende a anulação do voto. Essa segunda opção é defendida pelo presidente nacional, Plinio de Arruda, e pela vereadora alagoana Heloisa Helena. Os três deputados federais eleitos, no entanto, Chico Alencar (RJ), Jean Wyllys (RJ) e Ivan Valente (SP), defendem voto na petista.
Questionado sobre qual será o seu posicionamento,Edilson disse ainda não ter decidido entre as duas opções da sigla, mas irá ouvir primeiramente os filiados e militantes. Ele fez questão de ressaltar que o voto em Dilma não significaria apoio ou participação em governo. O comitê será reaberto com um debate com lideranças de entidades de direitos humanos, intelectuais da academia e entidades que lutam pela reforma urbana. Todos vão debater e propor encaminhamentos para dar visibilidade à opção "nenhum voto a Serra". Muitos psolistas têm parodiado a música do grupo de forró "Calcinha Preta": "Dilma, você não vale nada, mas eu voto em você".

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Por que o PSOL declara “Nenhum voto a José Serra!”?

Por Edilson Silva
No último dia 15 de outubro a Executiva Nacional do PSOL reuniu-se em São Paulo para debater e definir o posicionamento do partido no 2° turno das eleições presidenciais. Após um longo debate, que foi precedido de plenárias e audiências com filiados e colaboradores nos estados, o PSOL declarou “nenhum voto a José Serra” e entendeu como legítimas as opções de voto crítico em Dilma Rousseff e os votos nulo e branco.


Óbvio que as declarações da direção do PSOL têm o objetivo de subsidiar todos aqueles que têm referência política em nosso partido. Os eleitores do PSOL, redundante dizer, são sujeitos esclarecidos e livres para definir o seu voto. É assim na democracia, a liberdade é insubstituível.


Mas afinal, o que levou o PSOL a tomar esta decisão? Não se trata, como se pode perceber na nota pública do PSOL, apenas de diferenças mínimas no plano programático entre Dilma e Serra, ou entre PT e PSDB, que seriam talvez insuficientes para justificar tamanha distinção.


O que mais chamou a atenção do PSOL é a movimentação que acontece majoritariamente no subterrâneo deste processo eleitoral e, particularmente, neste 2° turno. Há, inegavelmente, o cozimento de um caldo de cultura de intolerância, de maniqueísmo e de discriminação no seio da sociedade.


Muito infelizmente, a candidatura de José Serra é o núcleo central onde orbitam os atores que patrocinam este perigoso retrocesso. Digo infelizmente por que José Serra não é um sujeito cuja história confunda-se com posicionamentos atrasados culturalmente. Digamos que ele pode até ser chamado de um liberal com certo grau progressista na sua trajetória.


Mas Serra se dispôs a liderar, ou tolerar, uma cruzada medieval, que aglutina forças ultra-conservadoras, com o objetivo único de vencer essa eleição. A face mais visível desta cruzada são setores religiosos fundamentalistas que não aceitam o caminho do Estado laico e de sociedade plural que o Brasil persegue. O vice de Serra, Índio da Costa, do DEM, dá a moldura político-ideológica para o que seria um comando nacional de caça aos esquerdistas, socialistas e comunistas, perseguição aos movimentos sociais e criminalização das oposições (chamadas por ele de terroristas).


Isso tudo já existia no 1° turno, como algo ainda marginal no debate político, mas ganhou muita força no 2° turno. Serra, de forma oportunista e irresponsável – repito, contradizendo sua trajetória -, resolveu surfar neste tsunami, trocando sua palavra de ordem do 1° turno de “O Brasil pode mais” para “Serra é do bem”. Se Serra é do bem, subentende-se que seus opositores seriam do mal. Qualquer conclusão que aponte para uma peleja entre Deus e o diabo não é mera coincidência.


A vitória de Serra, portanto, pode ser entendida por amplos setores como uma vitória do “bem” (sabe-se lá o que isto pode representar) contra o “mal” (tudo o que é diferente deste “bem”), e esta sensação de vitória pode abrir as comportas para sentimentos e práticas até então devidamente represadas numa consciência social majoritariamente contrária às práticas intolerantes.


É um debate obscurantista lamentável, mas que não podemos fugir dele. A sociedade brasileira, em seus incontáveis movimentos e entidades sérias, luta cotidianamente contra a intolerância às diferenças culturais que temos. É assim, por exemplo, nas entidades do movimento negro, que lutam contra a intolerância religiosa aos cultos de matriz africana. Uma luta que não raro vai parar em delegacias de polícia e em tribunais.


A candidatura de Serra está dando corpo a uma cultura que após ganhar as ruas com gosto de vitória pode tornar-se incontrolável, indomável. O PSOL tem compromisso não só com governos e com um Estado democrático, libertário e republicano, tem também compromisso com a construção de uma sociedade tolerante, plural e de espírito socialista, por isso Serra, neste 2° turno, que se configura como um plebiscito, recebe nosso mais contundente veto.


*Presidente do PSOL-PE, membro da Executiva Nacional do PSOL, ex-candidato ao governo de Pernambuco nas eleições 2010.





sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Edilson Silva: "Não subiremos no palanque de ninguém"

Matéria com Edilson Silva no Blog da Folha de Pernambuco

Acabou agora há pouco a reunião da Executiva Nacional do PSOL, Quinze dos dezessete membros participaram do encontro em São Paulo, e estão redigindo uma nota com a posição oficial do partido. O documento foi votado por treze psolistas, e é intitulado "Nenhum voto em José Serra (PSDB)". Segundo o presidente do PSOL em Pernambuco, Edilson Silva, o grupo também fez críticas à adversária do candidato tucano na disputa presidencial, Dilma Rousseff (PT). "Decidimos liberar a militância, o que é até uma redundância, porque isso faz parte do pensamento do PSOL. Achamos legítimas as expressões do voto crítico para Dilma, assim como dos votos nulo e branco. Mas partimos do princípio de que nós não vamos subir no palanque de ninguém", afirmou Edilson.

Segundo o dirigente, que disputou a última eleição para o Governo de Pernambuco, o partido considera a candidatura de Serra como um "brutal retrocesso para a sociedade brasileira". "Por isso, fazemos a demarcação de orientar essa exposição pública de que a posição da Executiva é de que os Estados ficam livres para optar. Vamos fazer uma plenária na próxima segunda-feira (18), no Clube de Engenharia, no Recife, onde vamos avaliar a resolução e debater o que podemos desenvolver em Pernambuco", disse Edilson. Questionado sobre seu posicionamento, o psolista garantiu que só falará na segunda-feira. "Prefiro me posicionar depois de me reunir com o diretório regional. Temos um respeito muito grande pelas instâncias do partido. Deixarei minha opinião para ser exposta depois da plenária", concluiu.

NENHUM VOTO À SERRA

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) mereceu a confiança de mais de um milhão de brasileiros que votaram nas eleições de 2010. Nossa aguerrida militância foi decisiva ao defender nossas propostas para o país e sobre ela assentou-se um vitorioso resultado.
Nos sentimos honrados por termos tido Plínio de Arruda Sampaio e Hamilton Assis como candidatos à presidência da República e a vice, que de forma digna foram porta vozes de nosso projeto de transformações sociais para o Brasil. Comemoramos a eleição de três deputados federais (Ivan Valente/SP, Chico Alencar/RJ e Jean Wyllys/RJ), quatro deputados estaduais (Marcelo Freixo/RJ, Janira Rocha/RJ, Carlos Giannazi/SP e Edmilson Rodrigues/PA) e dois senadores (Randolfe Rodrigues/AP e Marinor Brito/PA). Lamentamos a não eleição de Heloísa Helena para o senado em Alagoas e a não reeleição de nossa deputada federal Luciana Genro no Rio Grande do Sul, bem como, do companheiro Raul Marcelo, atual deputado estadual do PSOL.

Em 2010 quis o povo novamente um segundo turno entre PSDB e PT. Nossa posição de independência não apoiando nenhuma das duas candidaturas está fundamentada no fato de que não há por parte destas nenhum compromisso com pontos programáticos defendidos pelo PSOL. Sendo assim, independente de quem seja o próximo governo, seremos oposição de esquerda e programática, defendendo a seguinte agenda: auditoria da dívida pública, mudança da política econômica, prioridade para saúde e educação, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, defesa do meio ambiente, defesa dos direitos humanos segundo os pressupostos PNDH3, reforma agrária e urbana ecológica e por ampla reforma política – fim do financiamento privado e em favor do financiamento público exclusivo, como forma de combater a corrupção na política.

No entanto, O PSOL se preocupa com a crescente pauta conservadora introduzida pela aliança PSDB-DEM, querendo reduzir o debate a temas religiosos e falsos moralismos, bloqueando assim os grandes temas de interesse do país. Por outro lado, esta pauta leva a candidatura de Dilma a assumir posição ainda mais conservadora, abrindo mão de pontos progressivos de seu programa de governo e reagindo dentro do campo de idéias conservadoras e não contra ele. Para o PSOL a única forma de combatermos o retrocesso é nos mantermos firmes na defesa de bandeiras que elevem a consciência de nosso povo e o nível do debate político na sociedade brasileira.

As eleições de 2002 ao conferir vitória à Lula trazia nas urnas um recado do povo em favor de mudanças profundas. Hoje é sabido que Lula não o honrou, não cumpriu suas promessas de campanha e governou para os banqueiros, em aliança com oligarquias reacionárias como Sarney, Collor e Renan Calheiros. Mas aquele sentimento popular por mudanças de 2002 era também o de rejeição às políticas neoliberais com suas conseqüentes privatizações, criminalização dos movimentos sociais – que continuou no governo Lula -, revogação de direitos trabalhistas e sociais.

Por isso, o PSOL reafirma seu compromisso com as reivindicações dos movimentos sociais e as necessidades do povo brasileiro. Somos um partido independente e faremos oposição programática a quem quer que vença. Neste segundo turno, mantemos firme a oposição frontal à candidatura Serra, declarando unitariamente “NENHUM VOTO EM SERRA”, por considerarmos que ele representa o retrocesso a uma ofensiva neoliberal, de direita e conservadora no País. Ao mesmo tempo, não aderimos à campanha Dilma, que se recusou sistematicamente ao longo do primeiro turno a assumir os compromissos com as bandeiras defendidas pela candidatura do PSOL e manteve compromissos com os banqueiros e as políticas neoliberais. Diante do voto e na atual conjuntura, duas posições são reconhecidas pela Executiva Nacional de nosso partido como opções legítimas existentes em nossa militância: voto crítico em Dilma voto nulo/branco. O mais importante, portanto, é nos prepararmos para as lutas que virão no próximo período para defender os direitos dos trabalhadores e do povo oprimido do nosso País.

Executiva Nacional do PSOL – 15 de outubro de 2010.

Muito obrigado!!!

Muito obrigado pernambucanos e pernambucanas pelos mais de 37 mil votos de confiança depositados em nosso projeto e pelas incontáveis e calorosas manifestações de carinho. Eles são parte de nossa trincheira em busca de um novo fazer político. A luta, como sempre, continua! Abraço forte em todos e todas!

Edilson Silva.

sábado, 2 de outubro de 2010

Resgatando o voto de opinião e de esquerda

Por Edilson Silva /publicado no blog para o Acerto de Contas


Apesar da história ter desmentido Francis Fukuyama – o homem que decretou o fim dela, a história -, há um insistente discurso de “especialistas” de que não há espaços para o desenvolvimento de alternativas por fora das doutrinas econômicas e políticas hegemônicas. No Brasil, a era Lula reforçou de forma particular este discurso. Não precisamos dizer o porquê.


Fundamos o PSOL em 2004 e o legalizamos em 2005 para fazer um contra-ponto a esta tese, sem querer, de forma alguma, sermos o farol a guiar a reorganização de um campo popular de esquerda no Brasil. Esta tarefa está claramente para além das forças singulares do PSOL.


Apreender as contradições estruturais do dinamismo econômico e político-ideológico deste início de século 21, sob uma ótica revolucionária, e transformar esta teoria em prática e organização política igualmente revolucionária, deverá envolver profundo esforço intelectual e ainda mais esforços subjetivos na organização popular de uma classe que hoje se encontra multifacetada, em crise de identidade, num mundo do trabalho em constante metamorfose.


Intelectuais como François Chesnays, Immanuel Wallerstein, Istvan Meszaros e Ricardo Antunes, para citar apenas alguns, têm dado singular contribuição nesta empreitada de restabelecer um horizonte paradigmático, sempre dinâmico é bom dizer, que se apresente como uma referência mínima comum o mais segura possível no plano teórico para a reorganização política daqueles que estão em contradição com o capitalismo.


No plano da reorganização sindical e popular no Brasil, há muitos esforços sendo feitos, e o PSOL participa deles, como a tentativa de se construir uma nova central sindical que seja realmente independente do Estado e de seus governos. Contudo, estas tentativas, no Brasil, se ressentem da falta de uma resolução amplamente majoritária no plano analítico. Quem é a classe trabalhadora hoje? Onde ela está? Que pautas podem unificar o camelô e o petroleiro, por exemplo? É possível isto? Os movimentos por reivindicações humanísticas e ambientalistas estão inseridos numa perspectiva de classe? Responder a estas questões com mantras e dogmas é o caminho da caricatura política, da preguiça intelectual, caminho que o PSOL rejeita.


Mas existe outra frente em que se desenvolvem batalhas políticas e ideológicas, e nesta frente o PSOL também atua e começa a colher resultados. Trata-se do terreno eleitoral. Neste plano, na maioria dos estados brasileiros partimos praticamente do zero, como foi o caso de Pernambuco, com nossa primeira eleição em 2006. Estabelecemos, desde o princípio, que iríamos perseguir o resgate de um voto de opinião, crítico, de esquerda, porém voltado também para a massa da população.


As eleições de 2010 ainda não foram encerradas, mas a participação do PSOL em Pernambuco já alcançou uma importante vitória: colocamos na pauta o tema da esquerda, do socialismo, da ética numa perspectiva política e não meramente moral. Fizemos isto apresentando propostas viáveis sob a ótica dos socialistas para praticamente todas as áreas da gestão pública. Fizemos com coragem, firmeza, denunciando as inverdades dos postulantes dos grandes grupos que se revezam no poder. Fizemos uma campanha republicana, utilizando de todos os mecanismos constitucionais previstos para construir propostas que viabilizassem a socialização do poder e da riqueza em nosso Estado.


O resultado é que nossa candidatura em Pernambuco já se tornou um importante pólo de atração de forças vivas bastante relevantes. Conquistamos, antes dos votos, respeito ao nosso projeto/candidatura. As manifestações de apoio de entidades, personalidades, da população nas ruas, dão mostras de que estamos conseguindo resgatar o voto crítico, de opinião, de esquerda. Este é um processo lento, que está apenas começando, e ainda vai dar muitos frutos. Estamos no caminho certo.


Edilson Silva é Presidente do PSOL/PE e candidato ao governo de Pernambuco

Debate nas linhas e entrelinhas

Por Edilson Silva
Escrevo estas linhas embalado na perspicácia do jornalista Ivan Moraes Filho, que postou em seu blog, Bodega, um texto muito interessante após o debate entre os candidatos ao governo de Pernambuco na TV Globo: “Notas sobre um debate eleitoral”. Ivan captura e externa, com o bom humor que lhe é peculiar, a malandragem dos candidatos nos embates diretos.


Dentre as malandragens, a arte da fuga é desnudada num parágrafo: “Se alguém ouve uma pergunta que não quer responder, não faz a menor diferença. A resposta não precisa necessariamente (ter) relação com o questionamento. Em muitos momentos, qualquer debate pode tornar-se uma entrevista no carnaval de Olinda, quando o repórter pergunta: ‘Tá gostando da festa?’ e o folião tapa os ouvidos e enche a boca para gritar: ‘Minas Geraaaais!!’”. Impagável.


Perguntas sem respostas no debate da TV Globo: qual a diferença significativa entre uma média de 4.400 homicídios por ano no governo Jarbas (segundo mandato) e 4.380 homicídios por ano (2007, 2008, 2009) no governo Eduardo Campos? Qual a opinião do candidato sobre o protocolo ATLS (Advanced Trauma Live Support), utilizado pelo Hospital da Restauração há 20 anos, que indica que ali a prioridade é para quem tem mais chance de vida e não para quem tem mais possibilidades de ir a óbito? O que é pior, colocar a estrutura da Polícia Civil a serviço de uma companhia privada, Celpe, para cortar a energia elétrica da população, colocando praticamente na esfera criminal uma demanda que no máximo seria da esfera civil, ou tratar a água para populações de baixa renda como mercadoria, colocando os inadimplentes da Compesa no SPC?


Os foliões, digo, candidatos, que governam ou já governaram, simplesmente tapam os ouvidos, olham no fundo das câmeras e, sem cerimônia, dizem o que bem querem. Cabe aos eleitores, neste caso os que têm capacidade para tanto, identificar as contradições e ir percebendo o que existe de verdade e inverdade, o que é exeqüível e inexeqüível, o que é necessário e o que é pirotecnia.


Entre os candidatos às vezes é possível e necessário encurralar de fato um ou outro candidato, de modo que mesmo o eleitor menos esclarecido, mesmo sendo um analfabeto funcional, tire importantes conclusões. Mas esta empreitada envolve ir ao limite da desmoralização de uma das partes, envolve desafiar publicamente, exigir a verdade com fatos, levar as contradições às últimas conseqüências, e o debate não pode descambar para ser somente isto, como se cada debate devesse ser um tudo ou nada. O eleitor, sobretudo o esclarecido e com honestidade intelectual, precisa fazer sua parte, que é tirar suas conclusões, lendo as linhas e as entrelinhas dos debates.


Candidato ao governo de Pernambuco pelo PSOL

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O dia que Eduardo Campos fugiu do HR

Edilson com dirigentes do PSOL, na porta do necrotério do Hospital da Restauração, aguardando o governador para abrir o livro de óbitos do hospital. Edilson denunciou que em quatro anos de governo 12 mil mortes terão ocorrido por falta de leitos de UTI no Estado.